Afinal, como funciona o bafômetro?
O aparelho passou a ser utilizado no Brasil há algumas décadas, e é presença garantida em blitzes e fiscalizações de trânsito há quase uma década e meia, quando foi implementada a chamada Lei Seca no Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
Ela determina que os condutores não podem dirigir se tiver qualquer quantidade de álcool no sangue.
A proibição existe como forma de diminuir a incidência de acidentes de trânsito provocados por motoristas alcoolizados. Ainda assim, muita gente tem críticas ao teste.
Mas, para mostrar que ele é seguro, neste artigo vamos mostrar como funciona o bafômetro e qual sua importância.
Antes de mostrarmos como ele funciona, contudo, vamos apresentar o aparelho e suas diferentes características.
O que é bafômetro?
O bafômetro é o nome popular do aparelho chamado de etilômetro.
O nome técnico advém de sua função de medir a concentração de álcool etílico no organismo de uma pessoa; já o nome popular, amplamente utilizado no Brasil, decorre de seu tradicional uso – assoprando o aparelho.
O etilômetro utiliza reações químicas para identificar se a pessoa ingeriu álcool e, em caso positivo, em que quantidade.
O equipamento existe há algumas décadas, mas passou a ser utilizado em blitzes de todo o país a partir da implementação da Lei Seca, em 2008.
Em alguns estados, como o Rio de Janeiro, existe até um programa específico de abordagem de condutores para verificar se eles estão dirigindo sob influência de álcool.
Tipos de etilômetros: entenda como funciona o bafômetro
Existem basicamente dois tipos de bafômetros que são utilizados nas abordagens a motoristas no Brasil. Um deles age através de reações químicas com o dicromato de potássio. O outro, por sua vez, faz uso de um fio condutor e de uma célula de combustível
Bafômetro de dicromato de potássio
Nesse modelo, mais antigo, o motorista deve assoprar por um tubo plástico por cerca de cinco segundos. É o tempo necessário para expelir um litro de ar.
O ar que sai dos pulmões do condutor abordado vai até uma solução de dicromato de potássio com ácido sulfúrico.
Caso o ar que saiu dos pulmões contenha resíduos de álcool, o etanol irá reagir com essa solução. A reação química decorrente faz com que a cor da solução se altere, passando de laranja para um tom esverdeado. Isso comprova a presença de álcool no organismo.
Bafômetro de célula combustível
Trata-se do modelo de etilômetro mais moderno e, atualmente, mais utilizado para identificar o nível de teor alcoólico do motorista.
O princípio inicial é o mesmo: o condutor deve assoprar o bocal plástico descartável com força e por alguns segundos. Vale ressaltar que a peça plástica é sempre descartada.
A partir daí, o ar expelido se desloca até chegar a um dispositivo chamado de célula de combustível.
Esse componente é revestido com eletrodos de platina. Caso haja partículas de álcool etílico no ar, o contato com os eletrodos irá gerar uma reação química de oxidação, formando prótons e elétrons de ácido acético.
Se você lembrar das aulas de química ou física, prótons são partículas positivas, enquanto os elétrons são as negativas.
Esses elétrons, então, pelo ácido eletrolítico presente na célula de combustível.
Um medidor de corrente elétrica conta o número de elétrons e indica o nível de alcoolemia do indivíduo. E, quanto maior a corrente, mais alto o nível de embriaguez do motorista.
Os dados são automaticamente calculados por um pequeno computador embutido no aparelho, que informa a quantidade de álcool no sangue nu visor do bafômetro.
Como funciona o bafômetro chamado “novo” ou “bafômetro passivo”?
Mais recentemente, alguns estados passaram a equipar suas polícias e órgãos de fiscalização de trânsito com o chamado “novo bafômetro”, ou bafômetro passivo.
Este equipamento não serve para calcular o índice de álcool no sangue, mas sim para identificar se o condutor ingeriu bebida alcoólica. Ele é, portanto, auxiliar ao teste tradicional.
O nome “passivo” provém de seu uso: não é preciso que o condutor assopre nada. O próprio equipamento identifica presença de álcool apenas por aproximação.
Funciona assim: o policial ou agente de trânsito aproxima o bafômetro passivo do condutor.
Ele nem sequer precisa sair de dentro do carro. Caso houver qualquer partícula de álcool no ar próximo ao motorista, uma luz vermelha é acionada.
Nesse caso, o condutor será chamado para assoprar o etilômetro tradicional, que indicará se houve de fato consumo de bebida, e em que quantidade.
Teste do bafômetro no Brasil – Lei Seca
A chamada Lei Seca, que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas por motoristas antes de dirigir, foi instituída no Brasil em 2008.
Trata-se da Lei 11.705, que alterou aquela que instituiu o Código de Trânsito Brasileiro, em 1996.
Ao longo dos 14 anos desde que ela foi implantada no Brasil, a lei sofreu algumas alterações – e praticamente todas se tornaram mais severas.
A única que abrandou um pouco foi motivada por possibilidade de erro de medição. Mas fique tranquilo que a gente detalha tudo a seguir.
Concentração de álcool: o que diz o Código de Trânsito Brasileiro?
Quando o CTB foi sancionado, ainda na segunda metade dos anos 1990, a lei permitia um limite de 0,6 gramas de álcool por litro (g/l) na corrente sanguínea.
O condutor flagrado com uma quantidade de álcool superior a isso era multado e cinco vezes o valor de uma infração gravíssima – R$ 955,00 em valores da época.
Ele ainda teria a carteira nacional de habilitação suspensa por um ano.
Doze anos mais tarde, a lei de 2008 passou a considerar que qualquer quantidade de álcool no sangue seria infração, mas havia dois níveis.
Concentração superior a 0,2 g/l apontada por exame de sangue, ou acima de 0,1 mg/l no bafômetro, ocasionava multa e perda da carteira de motorista.
Agora, se o índice de alcoolemia fosse superior a 0,6 g/l no bafômetro, o condutor corria o risco de ficar entre seis meses e um ano na prisão.
Foi a partir de 2012 que a Lei Seca eliminou qualquer limite.
Assim, motorista que passasse a ser flagrado com qualquer quantidade de álcool na corrente sanguínea teria que pagar multa no valor de dez vezes uma infração gravíssima, ficar até um ano preso e perder o direito de dirigir.
Além disso, a partir de então, caso ele se recuse a fazer o teste do bafômetro, passou a ser aceita a declaração de testemunhas no caso de visível embriaguez.
A única alteração nesse período todo que abrandou o teste do bafômetro aconteceu em 2013.
À época, admitiu-se a possibilidade de bafômetros estarem desregulados. Assim, uma concentração de 0,05 mg/l passou a ser permitida. Em exames de sangue, contudo, a tolerância se manteve em zero.
Posso me negar a fazer o teste do bafômetro?
Pode sim, mas isso não quer dizer que estará livre de qualquer sanção.
Segundo o artigo 165 do CTB, a autoridade de trânsito poderá reter o veículo e recolher sua habilitação até que outro condutor habilitado apareça para retirá-lo.
Além disso, como citamos agora há pouco, se o motorista tiver sinais visíveis de embriaguez a comprovação pode ser feita inicialmente com a presença de testemunhas – e, posteriormente, através de exame de sangue específico.
Ingeri bebida alcoólica: quanto tempo tenho de esperar para o bafômetro não apontar álcool no sangue?
Depende. Mas, se tivermos que dar uma resposta segura, evite dirigir antes de se passarem 24 horas.
Não é possível precisar o tempo em que o álcool permanece no organismo, porque isso depende de uma série de fatores: idade, sexo, peso da pessoa, questões genéticas…
Não existe uma resposta correta.
Tanto é assim que foi exatamente por isso que, lá atrás a legislação brasileira decidiu reduzir a zero a concentração de álcool permitida no sangue aos motoristas que fazem o teste do bafômetro.
A ciência já demonstrou que não existem níveis seguros para dizer se a presença dele afeta os reflexos.
Enquanto para alguns motoristas baixa quantidade de bebidas alcoólicas não têm muito efeito, para outros um copo de cerveja já afeta.
Dito tudo isso: exames de sangue, em média, detectam o álcool na corrente sanguínea por até seis horas após o seu consumo.
Mas alguns bafômetros e testes de saliva, utilizados pela Polícia Federal, são capazes de identificar que o motorista bebeu até 24 horas – e aí mora o risco de você ser pego pelo aparelho.
Como faço para diminuir a concentração de álcool mais rápido?
Esperar. Não adianta, não existe receita milagrosa.
O senso comum diz para tomar café e ingerir bastante água. Uma busca na internet e você encontrará supostas técnicas para “driblar” o bafômetro. Tudo mito.
O café e a água poderão ajudar você a diminuir os efeitos da ressaca, mas não irão alterar em nada o nível de álcool do organismo. A eliminação dele depende de um processo natural.
Além disso, você não tem que querer driblar os testes do bafômetro. Eles foram implantados no Brasil para diminuir as mortes no trânsito decorrentes de motoristas embriagados.
E os resultados nestes 14 anos foram pra lá de satisfatórios, ainda que infelizmente muita gente ainda perde a vida nas estradas brasileiras devido à mistura nociva de álcool e direção.
Agora que você já entendeu como funciona o bafômetro, confira os demais conteúdos aqui do Review Auto. Até a próxima!
Gustavo Fonseca é formado em Direito pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), especialista em Direito de Trânsito e processo administrativo, com mais de 10 anos de experiência. Confudador do Doutor Multas – referência online do Direito de Trânsito, com mais de 3 milhões de visitantes mensais. Conheça meu trabalho nas redes sociais abaixo ou acesse meu site: Doutor Multas.